As Cruzadas foram as investidas militar cristã contra os "inimigos de Deus", aqueles que não acreditavam em Jesus Cristo. Partindo da Europa com destino a Jerusalém e demais localidades consideradas Terra Santa. Totalizando 9 expedições num período de 176 anos. No inicio era chamada de Guerra Santa, possivelmente a primeira vez que o termo tenha sido utilizado, a palavra cruzada surgiu mais tarde em função da vestimenta ser identificada por uma cruz vermelha para diferenciar os soldados de Cristo. O evento também teve um caráter de penitência, peregrinação e até para se conseguir uma graça divina, mas, para os homens ambiciosos do poder ocultava motivos políticos e econômicos muito maiores, alguma diferença das guerras de hoje? Foi nessa época que a Ordem dos Cavaleiros Templários teve propósito.
Normalmente as Cruzadas são vistas de uma forma romântica, como uma guerra motivada pela antiga intolerância católica para combater os infiéis maometanos (os muçulmanos), mas não se pode afirmar que as Cruzadas foram dos católicos, é preciso ressaltar que na época ou o indivíduo era cristão ou infiel (herege). O pensamento cristão estava consolidado e ter opinião diferente era considerado heresia, a pena variava de excomunhão, tortura ou ser queimado vivo em uma fogueira. O julgamento para os hereges não era exclusivo da igreja, as autoridades seculares e até mesmo a comunidade poderiam faze-lo dentro da legalidade. Mas se por acaso existissem dissidências do cristianismo diante dos fatos e argumentos apresentados na época, sem dúvida alguma, os dissidentes também entrariam na causa, afinal a guerra era contra os "inimigos de Deus". Lembrando mais uma vez que é preciso imaginar o pensamento do homem da época.
A primeira Cruzada marcou o ressurgimento da Igreja de Roma e não foi um evento isolado, mas uma série de acontecimentos que contribuíram para o seu idealismo. Antes devemos lembrar de que os fatos são muito antigos e os documentos escassos e restritos, a maior parte se perdeu no tempo, imagine um documento ser mantido por mil anos, sem contar que o idioma daquela época se transformou, sendo assim é muito natural interpretações e opiniões divergentes e confusas. É preciso entender a evolução desses fatos históricos do mundo cristão que contribuíram diretamente no idealismo das Cruzadas:
1. Desde a dissolução do Império Romano no século IV a Igreja de Roma, sediada em Roma, estava em conflito com a Igreja Ortodoxa Grega, sediada em Constantinopla, pois ambas afirmavam ser a única Igreja de Cristo segundo a vontade de Deus. A igreja Ortodoxa queria ser deixada em paz, toda via a Igreja de Roma era mais agressiva e queria o controle exclusivo dos cristãos. O papa Leão IX por decreto excomungou definitivamente o imperador Bizâncio, seus herdeiros e todos os patriarcas, monges e sacerdotes da Igreja Ortodoxa. A excomunhão naquele tempo era um pouco pior do que o embargo econômico nos dias de hoje, significava que além de ir para o inferno o crente ainda não poderia contar com seus familiares, parceiros de negócios, aliados e amigos do mundo cristão, sob pena dos demais também acabarem indo para o inferno por decreto, ou seja era a condenação ao fracasso total.
2. Com a morte do papa Leão IX o Trono de Pedro passa para o monge Hildebrando, com o nome de Gregório VII, dando continuidade ao pensamento do papa anterior e ainda promoveu profundas reformas, como a proibição do casamento no clero e ainda exigindo a separação dos casados de suas esposas sob pena de serem excluídos do sacerdócio, na época isso causou grande revolta, pois as mulheres casadas e com filhos seriam abandonadas a própria sorte. Em algumas localidades a comunidade simplesmente fez vistas grossas e os padres mantiveram seus casamentos na clandestinidade. O argumento é que os padres e bispos, a exemplos dos monges, deveriam se dedicar exclusivamente a Cristo, assim como Jesus se dedicou a salvação dos homens. Outra mudança foi a nomeação de padres e bispos caberem exclusivamente ao papa, não mais a reis e condes, desta forma centralizava o poder e fidelidade, embora o argumento fosse de que a nomeação do papa era originário diretamente de Deus, enquanto o poder secular nascia do pecado original. Ainda apoiou os normanos contra os turcos em troca das terras da Igreja Ortodoxa na Asia Menor. Em meio as reformas Gregório criou inimigos poderosos como o jovem Sacro Imperador Romano Henrique IV, que excomungado, exilado, humilhado, subestimado, perdoado e finalmente alimentado pela sede de vingança livrou-se dos seus desleais e não demorou para investir contra o papa, forçando-o ao exílio até a morte. Porém o legado do poder papal permaneceria para seu sucessor.
3. Henrique IV apontou um novo papa, o Arcebispo de sua confiança Gilberto de Ravena, designado como Clemente III e os cardeais de Roma elegeram um monge como Victor III, tendo então dois papas, porém, Victor era frágil e doente, seu papado foi de dois anos e nada foi acrescentado, desta forma Henrique não foi ameaçado, embora seu papa não tivesse credibilidade, mas a Igreja de Roma perde poder e dinheiro. O papa seguinte foi Oto de Lagery, eleito também pelos cardeais e adotou o nome de Urbano II. O novo papa não era uma pessoa comum, foi o mais forte soberano da cristandade, persuasivo, cortês e conciliatório, não descansou até recuperar o Trono de São Pedro, profanado pelo antipapa Gilberto de Ravena e conquistar novamente a posição de respeito. Urbano compartilhava dos pensamentos de Gregório: a supremacia da Igreja Romana. Inteligente e perspicaz, retirou o veto de excomunhão contra o imperador bizantino decretado por Gregório, pensando em alianças e uma possível expansão futura através dos laços de gratidão do monarca, pois a Europa está desunida e a Asia em crescimento devido ao forte comércio.
4. O cristianismo tinha um líder forte em Urbano II, mas ainda faltava a supremacia vislumbrada por Gregório e o papa aguardava por uma oportunidade, precisava de um evento significativo para consolidar seu poder, enquanto isso organizava suas alianças. A oportunidade veio do Oriente, o então perdoado Imperador Bizantino, Aleixo I, precisava de ajuda para conter as investidas turcas e contratou mercenários, estes por sua vez se voltaram contra ele, como não tinha a quem recorrer e necessitava de urgência procurou pelo papa, obviamente com promessas de recompensa. Em sua carta descreveu as trucidades turcas minunciosamente, mas em sua cabeça Urbano vislumbrou outro cenário: uma Guerra Santa em nome de Deus. Os cristão tomariam posse definitivamente da Terra Santa das mãos dos "fanáticos seguidores de Maomé", colocaria os europeus que viviam em conflitos do mesmo lado (o que era muito bom para a economia européia), haveria novas terras para os filhos mais novos da nobreza que normalmente não teriam direito a propriedades devido a lei da primogenitura, ampliaria a cristandade no Oriente, receberia doações dos espólios de guerra, anexação da Igreja Ortodoxa sob seu comando, destinaria o excesso de contingente populacional para outras regiões, direito nas taxas de peregrinação e ainda comandaria a empreita, dando-lhe poder absoluto e a administração dos recursos para a expedição. Para Urbano o plano era uma oportunidade, um presente de Deus.
O papa estava preparado, usou de todo tipo de propaganda para disseminar a ideia fazendo com que milhares de fiéis inflamassem e atendessem ao chamado. Inspirou o ódio contra os muçulmanos baseado nas supostas atrocidades realizadas contra os cristãos indefesos, ofereceu as novas terras e a recompensa máxima para um cristão: a eternidade no paraíso. Declarou que os cristãos mortos em batalha receberiam absolvição imediata de todos os pecados, a interpretação correta do quinto mandamento era não matarás um cristão, portanto, matar um infiel não era pecado uma vez que sua alma já estava condenada, se houvesse dúvida na identificação entre um cristão e um infiel era melhor matar, pois o cristão teria um lugar reservado no céu. Poderiam ainda tomar para sim todos seus pertences como espólios de guerra, não esquecendo do dízimo, afinal era uma guerra em nome de Deus. Então em 1096 milhares de fanáticos cristãos seguiram para matar e morrer.
O exercito era maior do que se esperava e não faltaram provações como: fome, sede, doenças, brigas, lugares inóspitos e condições exaustivas. Houve saques aos vilarejos no meio do caminho e uma série de batalhas até o destino testaram a resistência e a capacidade dos cruzados. Talvez alimentar um exército tão grande e desordenado por uma distancia de 3 mil quilômetros tenha sido o maior desafio para Urbano II, quase a metade perdeu-se no caminho. A turba era composta por todo tipo de gente, desde nobres, cavaleiros, soldados, padres, camponeses, ladões condenados e prostitutas, cada qual com suas ambições e todos com a benção de Deus, por intermédio do papa.
Tomar as cidades santas foi tão difícil quanto a longa viagem, no entanto dado as circunstancias em que os cristãos se encontravam o fracasso seria a morte, de fome ou sede. Não se podia recuar ou desistir aquela altura, a situação estava mais desesperadora para quem atacava do que para quem se defendia. A insanidade tomou conta da batalha e a luta foi desigual, sem precedentes, sangrenta, cruel, uma matança que chegou a escandalizar os infiéis. Os códigos de conduta em batalha foram abandonados e houveram casos de selvageria extrema, existem relatos de que os cadáveres eram estripados por conta de um boato de que os muçulmanos engoliam suas joias e moedas, a fome levou ao canibalismo, a anarquia foi generalizada. O curioso é que os cruzados viviam atormentados pelo medo de serem capturados e trucidados, lembrando que a imagem dos infiéis passada pelo papa era das pior possíveis.
Por fim a cruzada teve sucesso e Jerusalém, juntamente com outras cidades foram tomadas e agora estavam sobre o domínio da Igreja de Roma, conforme planejado pelo papa Urbano II. Godofredo de Bulhão foi o primeiro soberano da Terra Santa, um guerreiro lendário, de origem plebeia em meio a tantos cavaleiros nobres, não era rico nem poderoso, mas portador de grandes qualidades e habilidades. Seu governo foi curto embora muito respeitado, sua reputação de coragem e piedade durou a idade média inteira. O sucessor foi seu irmão Balduíno I, que mais tarde viria a favorecer o surgimento da Ordem dos Templários, os quais fazem parte das demais Cruzadas.
As cruzadas promoveram grandes ganhos para o cristianismo e grandes perdas para o conhecimento antigo.
As cruzadas promoveram grandes ganhos para o cristianismo e grandes perdas para o conhecimento antigo.
Como é bom entender com resumos perfeitos... Parabens ta deixando td tao claro.
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